Psicoterapia para quê?

12-04-2019

Procurar um psicólogo é uma decisão difícil para a maior parte das pessoas. Para uns porque parece estranho procurar alguém para falar, para outros porque acreditam que o que quer que esteja a preocupar há-de passar e para outros porque procurar ajuda representa fraqueza. Quando algo nos perturba, tentamos resolver. Arranjamos uma série de estratégias para fugir e tornamo-nos dependentes da bebida, do tabaco, do trabalho, de uma relação. Recorremos aos familiares e aos amigos e outras vezes confrontamo-nos com o facto de estarmos demasiado sozinhos e isso passa a significar outro problema. É a tristeza que nos envolve, o medo, a confusão, a ansiedade, o querer sair daquela situação, a expetativa de que tudo se vai resolver magicamente. Por vezes (umas quantas) os nossos processos mentais são também afetados: perdemos concentração, distraímo-nos com mais facilidade, não conseguimos pensar, deixamos de conseguir controlar os nossos impulsos, não nos reconhecemos numa data de comportamentos. E assim chegamos a um impasse: precisamos de ajuda mas não sabemos como fazer. Ora este é o primeiro passo, talvez o mais importante e seguramente o que denota mais coragem: assumir a nossa condição de ser humano!

Sozinho não conseguimos e a nossa rede de suporte habitual raramente é suficiente. Não que a família e os amigos não sejam suficientemente bons mas porque estão demasiado envolvidos e aqui reside a base da psicoterapia: o distanciamento. Todos nós já experienciamos que afastarmo-nos facilita a nossa capacidade de observação e permite uma análise mais apurada. A intervenção psicoterapêutica envolve precisamente um trabalho neste sentido. Mas antes de nos distanciarmos, é imprescindível que saibamos com o que estamos a lidar, mais precisamente com quem e isso passa pelo autoconhecimento. Habituamo-nos a olhar para nós como tendo qualidades e defeitos. A prática clínica tem-me dado a certeza de que apenas possuímos caraterísticas. Transformá-las em qualidades ou defeitos é uma decisão pessoal que envolve trabalho mas também escolhas e prioridades. O processo de mudança passa a ser simultaneamente um objetivo, um motivo, uma necessidade mas também o resultado. Note que o termo é "processo" de mudança e aqui reside outra caraterística da psicoterapia: não se pretende apenas provocar mudanças relativamente a esta ou aquela situação. Pretende-se sim consciencializar o indivíduo de que não existem vidas perfeitas nem pessoas perfeitas. Existem sim pessoas imperfeitas capazes de lidar quase perfeitamente com as adversidades da vida. E isso é aprender a viver, sabendo que há coisas em nós que gostamos mais e outras das que gostamos menos, algumas de que nos orgulhamos, outras que preferimos esconder. Trata-se de nos aceitarmos a nós próprios tal e qual somos, conscientes de que somos o resultado das nossas escolhas quaisquer que tenham sido as circunstâncias que a vida escolheu para nós.

Bernadette Matos-Lima