Férias sem telemóvel

18-04-2019

Nota introdutória: se o tempo que o seu filho passa ao telemóvel, tablets e afins não o incomoda, então não leia! 

Chegam as férias, os fins de semana prolongados, os feriados e sem as rotinas dos dias de aulas, parecem ter-se evaporado quaisquer alternativas de ocupação do tempo que não passem pelo uso de tecnologias. Não pretendemos ter a resposta certa mas gostávamos de ajudar caso, como nós, se preocupe com a saúde mental das crianças. Que exagero, pensarão alguns! Então o tempo que passa ao telemóvel vai comprometer a saúde mental do meu filho? Nós respondemos: enquanto está a jogar, a ver vídeos e outras tarefas semelhantes, a criança está a perder a oportunidade de se desenvolver socialmente, está a perder a oportunidade de desenvolver a criatividade, de lidar com a frustração, de aprender a inibir impulsos. Nem tudo é mau, é certo e não defendemos obviamente a proibição de aceder a este tipo de equipamento. Acreditamos apenas que, como quase tudo na vida, este acesso deve ser gerido de forma sensata. Mas vamos às sugestões.

Primeiro dia (ou primeiras horas): deixe que a criança/ adolescente faça "coisas". Provavelmente vai começar uma data delas e não vai acabar nem tão pouco permanecer em nenhuma delas mais de alguns minutos. Vai inclusive chegar o momento em que vai ter consigo com ar pesaroso ou irritado com a queixa "não tenho nada para fazer". É a primeira conquista: confrontar-se com o vazio e com a necessidade de tomar iniciativas. Não ignore o que ele está a sentir mas deixe que ele permaneça nessa sensação de tédio e que aprenda a lidar com isso. Deixe-o sentir a necessidade de tomar uma decisão, de criar alternativas, de experimentar. Algumas são talvez impossíveis de concretizar mas ajude-o a repensar. Mostre-lhe as incongruências, as dificuldades mas sem destruir totalmente as hipóteses que ele levantou. Exemplifiquemos: quer ir ao parque mas está a chover ou é de noite. Ok! "É uma ideia mas neste momento não é possível. Porque querias ir ao parque? Para brincar. Então porque é que não brincamos aqui em casa?" Ajude-o e divirtam-se juntos a construir uma cabana (2 cadeiras e uma manta por cima são suficientes) ou outras diversões (já parou para pensar no uso que pode dar a uma caixa de papelão?) E se o cansaço não deixar que a sua imaginação funcione como gostaria, existem sempre os brinquedos que muitas vezes eles não usam. Quer ir ao cinema com os amigos? Sessão de cinema cá em casa! E se arranjar umas pipocas, umas almofadas no chão, apagar as luzes e fechar as janelas e convidar um ou outro amigo, melhor ainda. Claro que vão existir situações em que o mal-estar da criançada (se forem adolescentes, a coisa pode piorar mais ainda) é de tal ordem que não surge qualquer ideia e nessa altura terá mesmo de assumir a posição de adulto e fazer algo com ele(s). Sabemos que não vai desiludi-los e vai encontrar alguma coisa mas queremos contribuir com algumas alternativas.

1. Ver fotos mais antigas quer deles, quer dos pais ou até dos tios, avós. Eles vão adorar e rir às gargalhadas. 

2. Preparar um lanche, o almoço, o jantar, uma sobremesa. Acaba por ser uma forma de os envolver em tarefas domésticas e incutir-lhes essa responsabilidade. Se a coisa pegar, podem separar roupa para lavar e contribuir para as arrumações. 

3. Separar roupas/ brinquedos deles que não usam para serem doados a instituições ou mesmo a primos, vizinhos que agradecem a reciclagem. 

4. Fazer postais e decorar sacos de papel que vão dar jeito nos aniversários ou nas festas.

5. Jogos de tabuleiro, de sociedade e se não tiver nada por aí pode sempre improvisar com o jogo do galo, o dos pontinhos, a batalha naval, o código secreto, o "nome, frutos, países, cidades,..." e outros semelhantes. 

6. Fazer uma horta ou um jardim se tiver espaço exterior ou semear ervas aromáticas em vasos se preferirem. 

7. Uma sessão de manicure ou massagem nos pés é coisa que muitas meninas vão apreciar quer tenham 3 anos quer tenham 16. 

7.  Construções de madeira, mexer em ferramentas, ajudar em tarefas de "bricolage" faz as delícias de miúdos e graúdos e espante-se por não ser apenas o sexo masculino a aderir. 

8. Se a meteorologia ajudar, um piquenique é sempre bem-vindo e pode gerir em função do tempo disponível. Se for possível, podem sempre levar uma bola, uma corda de saltar ou o que quer que tenha por casa. 

9. Caça aos ovos é coisa de Páscoa mas porque não uma caça ao tesouro onde podem incluir a variante do "quente e frio". Ou podem escrever um conjunto de pistas numa folha que levarão à "recompensa" no fim. 

As hipóteses não se esgotam e há sempre a possibilidade de ficarem apenas sentados a conversar sobre qualquer coisa sem se preocupar em ensinar nem transmitir qualquer conhecimento. Limitar-se a estar e a apreciarem a companhia uns dos outros. Afinal as férias também servem para isso: apenas parar!

Bernadette Matos-Lima