Sinto a tua falta!
09-10-2018
Sinto a tua falta.
Perguntas quem sou e isso não importa. Sou teu pai/ mãe, filho/ filha, marido/ mulher, namorado/ namorada/ companheiro de vida, colega de trabalho. Sou a pessoa com quem estás todos os dias mas sinto a tua falta. Falta de conversar contigo, de sentir que me escutas. Dirás que falamos todos os dias e não estás a mentir. Falamos sim. Falamos de coisas e até nós rimos em conjunto. Mas não conversamos. Há um telemóvel, um tablet, um qualquer coisa que medeia aquela relação. Deixamos de existir como pessoas. Deixamos de saber estar. E a arte de conversar perdeu-se. "Conversar não é uma arte, apenas acontece, e nós conversamos tanto no messenger, no WhatsApp, por sms,...falamos a toda a hora" dirás tu e eu não vou desmentir. É verdade mas questiono-me: aguardamos com expectativa o momento em que os bebés começam a falar. Deveremos começar antes a preocupar-nos com o momento em que eles dominam a arte de digitar conversas? Os livros ensinam que o aparelho orofonatório é o principal na comunicação mas talvez devam alterar até as figuras e introduzir um qualquer aparelho entre os dois indivíduos.
Sinto falta de ver a tua expressão e não quero limitar-me a interpretar os emojis. Quero ver os teus olhos abrirem, incrédulos pelo disparate que digo, o teu sorriso disfarçado, a tua irritação pelo meu atraso. Não quero ser uma carinha feliz, com o olho a piscar. Quero sentir o cheiro quando te beijo e abraço. Quero sentir a rugosidade da tua pele quando te cumprimento. Quero ouvir a mesma história 50 vezes e aborrecer-me por isso sem ter a possibilidade de passar à frente. Quero que nos possamos juntar a outras pessoas a uma mesa ou na rua ou num qualquer banco de jardim para depois fugir dali porque a chuva é demais ou já não se aguenta o calor. Quero que possamos tropeçar nas palavras e ter de explicar uma e outra vez. Quero cansar-me de te ouvir. Quero que me mandes calar. Quero sentir que não somos virtuais mas sim pai/ mãe/ filhos/ irmãos/ amigos/ um casal. Quero sentir que eu existo, que tu existes e que a nossa relação existe.
Bernadette Lima, Outubro 2018